sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Trauma - quando não conseguimos esquecer….

Na sequência de um acontecimento traumático como um assalto, um acidente, um desastre natural ou qualquer outro incidente de características ameaçadoras, é normal que surjam reacções de stress decorrentes dessas circunstâncias. A maioria das pessoas, apesar de terem reacções de stress intensas após um evento traumático, melhora com o tempo. No entanto, existem pessoas cujas reacções a eventos traumáticos são cada vez mais intensas e recorrentes, pelo que necessitam de procurar ajuda por parte de um psicólogo.

A persistência destas reacções poderá indicar a presença da Perturbação de Pós Stress Traumático (PPST).

Existem quatro tipos de sintomas mais comuns da PPST:
  1. Reviver o evento traumático (sentir a experiência traumática como real; sentir a mesma angústia e medo tal como se estivesse novamente a acontecer) através de pesadelos recorrentes, flasbacks, mal – estar psicológico intenso associado a estímulos que relembrem o trauma (ver um acidente, ouvir falar de um acidente, cheiros relacionados com o evento etc.)
  2. Evitar situações que relembrem o trauma como por exemplo, evitar multidões por sentir que são perigosas, ver filmes, noticias ou falar com alguém sobre o que aconteceu, pois é penoso recordar o incidente. Existe um esforço para evitar pensamentos e sentimentos associados ao trauma.
  3. Dificuldades em expressar sentimentos; tendência para evitar relacionamentos mais íntimos; pode surgir uma diminuição de interesses em actividades e sentir-se mais desligado; diminuição dos afectos e expectativas encurtadas em relação ao futuro.
  4. Sintomas persistentes do aumento da activação fisiológica (ausentes antes do trauma) indicando 2 ou mais dos seguintes: dificuldade em adormecer, irritabilidade, dificuldades de concentração, hipervigilância, resposta de alarme exagerada. 

Deve procurar ajuda sempre que:
- os sintomas durem mais que três meses após o incidente traumático;
- os sintomas causem um imenso sofrimento e ansiedade;
- os sintomas dificultem a capacidade de manutenção de rotinas diárias – dificuldades no trabalho, na concentração, em dormir etc.

A perturbação de pós stress traumático desenvolve-se após a ocorrência traumática, no entanto, existem muitos casos cujos sintomas só surgem após meses ou anos do evento.
Se tem sintomas que durem mais de quatro semanas, que lhe causam enorme ansiedade, medo, angústia e que perturbem o seu funcionamento social, ocupacional ou qualquer outra área importante, procure aconselhamento e tratamento com um psicólogo. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012


A Perturbação de Pânico

É a mais conhecida das perturbações da ansiedade e afecta cerca de 1 em cada 75 pessoas. Os primeiros sintomas ocorrem na adolescência e início da idade adulta. As suas causas exactas ainda não são claras, mas parece coincidir com períodos de maior ansiedade e mudança na vida da pessoa. Os factores genéticos também parecem influenciar o desenvolvimento desta perturbação.

O que é um ataque de pânico?
A principal sensação é a de um medo intenso, súbito e incontrolável. Este medo surge sem aviso ou razão aparente e parece surgir do nada. Os principais sintomas são:
- batimento cardíaco muito acelerado;
- dificuldades em respirar (sensação de não ter ar suficiente);
- medo, terror paralisante;
- tonturas, dores de cabeça ou náuseas;
- tremores, suores nas mãos ou pés;
- dores no peito;
-sensação de desmaio iminente;
-sensação de frio ou de calor;
-medo de morrer, de enlouquecer ou de perder o controlo de si mesmo.

Este tipo de sintomas são típicos do Ser humano perante uma situação de perigo – teoria dos três F (flight, fight ou freeze), mas no caso dos ataques de pânico, estes ocorrem sem a existência de uma circunstância perigosa. Em muitas situações os ataques podem ocorrer durante o sono.
No seguimento dos sintomas em cima apresentados, os ataques de pânico são marcados pelas seguintes condições:
- ocorrem repentinamente sem aviso prévio;
- o nível de medo causado pelos ataques é totalmente desproporcional, tendo em conta as circunstâncias;
- os ataques de pânico cessam em apenas alguns minutos, o nosso organismo não suporta este tipo de reacção por demasiado tempo, mas podem ser recorrentes durante várias horas.

Causas
Os ataques de pânico não são perigosos, mas podem ser bastante assustadores pela sensação de falta de controlo que proporcionam. Este tipo de perturbação, pode eventualmente, dar origem a outro tipo de complicações a nível psicológico, como depressão, fobias, abuso de substâncias ou suicídio entre outras. As fobias desenvolvidas no âmbito da perturbação de pânico, não provêm do medo de objectos ou eventos relacionados, mas sim pelo medo de voltar a ter um novo ataque. As pessoas terão a tendência de evitar determinadas situações por causa do medo de despoletar um novo ataque.

As causas desta perturbação assentam na interpretação que a pessoa faz das reacções do próprio corpo. O primeiro ataque de pânico é, quase sempre, uma experiência muito forte – até porque nesse momento, a pessoa acredita que tem um problema físico eventualmente perigoso. A partir daqui, os sintomas da resposta de ansiedade ficam associados à experiência desagradável do ataque de pânico. Por este motivo, de cada vez que eles ocorrem no futuro, a pessoa associa-os a esta experiência, o que aumenta a ansiedade e precipita o ataque de pânico. Deste modo o tratamento desta perturbação deve passar pelos seus vários aspectos – psicológicos e fisiológicos.

O tratamento
A maior parte dos psicólogos concordam que um dos tratamentos mais eficazes é a terapia cognitivo-comportamental. A medicação também é apropriada em determinados casos (ansiolíticos e antidepressivos). A terapia cognitiva ajuda o paciente a identificar os sinais desencadeadores do ataque e a alterar os processos cognitivos inerentes à sensação de medo intenso. O importante nesta terapia é conseguir evitar que o paciente continue a fazer uma interpretação errada de que os sintomas são perigosos, mas sim, acreditar que os sintomas, ainda que desagradáveis, são completamente inofensivos.
Na sua maioria estes tratamentos têm uma elevada taxa de sucesso, mas tudo depende de cada situação e da cada pessoa.

Quando convenientemente tratada, a perturbação de pânico não desencadeia futuras complicações a nível psicológico. Esta perturbação, tal como muitas outras de foro emocional, não deve ser menosprezada e deve ser correcta e rapidamente tratada. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

UMA SOCIEDADE DE ANSIEDADES


Calcula-se que as perturbações de ansiedade afectem cerca de 5 a 7 % da população global e que cerca de 29% das pessoas venham a sofrer de uma perturbação de ansiedade pelo menos uma vez ao longo da sua vida.

Em Portugal as perturbações psiquiátricas mais frequentes são a ansiedade (16,5%) e a depressão (7,9%), segundo um estudo de 2010 feito pela faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.

Nos últimos anos, conheci casos preocupantes de pessoas com sintomas graves de ansiedade. Entre explicações de ordem genética, de personalidade, os factores ambientais como o stress da sociedade em que vivemos, facilitam o acréscimo de casos de ansiedade.

Hoje em dia, em tempos de austeridade, existem sempre motivos para estarmos ansiosos ou preocupados com alguma coisa, para além de que os media, na sua generalidade, contribuem para aumentar o pessimismo e o medo na população. Existe um sentimento de tensão constante entre as pessoas, transversal a todas as classes sociais e a todas as idades. É natural que sintamos medo, receio do nosso futuro e do futuro dos nossos filhos, mas alguns de nós, estão muito mais vulneráveis a nível psicológico a desenvolver perturbações da ansiedade.

O que é a ansiedade?

A ansiedade é o termo utilizado para descrever uma série de perturbações que causam medo, nervosismo, apreensão e preocupação. Estas perturbações afectam o nosso comportamento, as nossas emoções e podem manifestar-se através de sintomas físicos.

A ansiedade ligeira é normal no Ser humano, mas quando se torna mais frequente e intensa, pode ser extremamente debilitadora. As pessoas geralmente sentem uma ligeira ansiedade quando confrontadas com algo que desconhecem ou com situações que sejam desafiantes, inesperadas etc. Estes sentimentos são facilmente justificáveis e considerados normativos.

A ansiedade é considerada um problema quando começa a interferir com a capacidade funcional da pessoa, com dificuldades associadas ao sono, podendo adquirir um impacto gravíssimo caso não seja detectada e tratada.
  
As perturbações da ansiedade podem ser classificadas em vários tipos específicos.

Perturbação da ansiedade generalizada
Perturbação de pânico
Fobias
Perturbação obsessivo – compulsiva
Perturbação de pós stress traumático
Perturbação da Ansiedade de separação
Perturbação da Ansiedade Social


Fique atento aos próximos posts onde irei descrever este tipo de perturbações, tratamentos e prognósticos associados.  

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Parar de comer emoções


Quantos de nós já comemos em demasia, ou nos vingámos em comida extra calórica quando nos sentimos deprimidos. Para as mulheres os chocolates e as gomas são amigos magníficos nesses momentos.
Como é que estes sentimentos de ansiedade motivam a comportamentos de ingestão em excesso?
 A nível psicológico a comida exerce a função de recompensa imediata perante sentimentos inadequados ou difíceis de dominar,tais como a ansiedade, o medo, a baixa auto-estima. Comer é uma forma rápida de tentar manter o controlo e ajustar emoções. Este comportamento quando começa a ser muito frequente e provoca um aumento do peso pode trazer consequências negativas para a vida da pessoa.

O que podemos fazer para evitar este comportamento? Aqui ficam algumas sugestões.

  • Deixe de comprar doces/salgados que sabe que irão ser consumidos quando se sentir mais deprimido/a. Se eles não estiverem ao seu alcance na dispensa/frigorífico poderá conseguir controlar melhor a ansiedade em ingeri-los.

  • Identifique o que sente, isto é, tente perceber porque é que esse sentimento surge, pare um pouco para pensar sobre ele, não corra logo para o frigorífico.

  • Ajuste a emoção, avalie a ansiedade que está a sentir numa escala de 1 a 10 e tente perceber o que pode fazer para diminuir o seu sentimento na escala.

  • Não lute contra os seus sentimentos, deixe fluir, pois quanto mais tentamos controlar as nossas emoções, maiores elas se tornam. Aprenda a tolerar essas emoções e promova atitudes de mudança.

  • Não se culpe, não tenha pena de si, sentenciar o comportamento só vai diminuir o seu poder sobre ele.

  • Crie outros hábitos, em vez de recorrer a comida para aliviar sentimentos de ansiedade e angústia, saia de casa, faça exercício físico, combine mais encontros sociais com amigos/as ou leia um livro.



sábado, 10 de novembro de 2012

Os mitos sobre a psicologia

Todos temos algo a dizer sobre psicologia. É fascinante falar sobre o comportamento humano e dos seus processos mentais, mas será que tudo o que se diz sobre a psicologia é verdade? Vou referir alguns dos mais banais mitos de conteúdo psicológico.

1º Mito – A psicologia = senso comum. O facto de ser uma ciência fascinante, que desperta curiosidade e interesse da parte da sociedade, pode ter um lado menos benéfico. A psicologia acaba regularmente associada ao senso comum, uma vez que todos conseguem falar sobre o assunto, e opinar com relativa confiança sobre questões psicológicas do comportamento humano. No entanto, a verdade é que nada na psicologia é de senso comum, a mente humana é demasiado complexa para ser diminuída a este ponto.

2º Mito – Só as pessoas com perturbações mentais é que vão a consultas de psicologia. Ainda é uma crença bastante comum, no entanto a maioria das pessoas que são consultadas por psicólogos, não sofre de qualquer distúrbio mental, mas sim estão em sofrimento, em estados de ansiedade elevada, com problemas familiares, emocionais, conjugais e necessitam de terapias ou aconselhamento especializado.

3º Mito – Os opostos atraem-se. Pois isso só mesmo na física. Normalmente as pessoas procuram parceiros com que se identifiquem, que tenham gostos e características de personalidade semelhantes às suas. A longo prazo são estas as relações amorosas que têm mais probabilidades de resultar, embora possam haver excepções.

4º Mito – O ser humano só utiliza 10% do funcionamento cerebral. Isto é falso, embora todos quiséssemos que fosse verdade, pois teríamos um enorme potencial por desvendar. Os humanos utilizam o funcionamento cerebral a “100%”, e mesmo quando dormimos estamos sempre a utilizar o cérebro na sua quase totalidade.

5º Mito – O psicólogo consegue ler a mente humana. Este é daqueles mitos que todos os psicólogos gostariam que fosse verdade, mas infelizmente é falso. O psicólogo utiliza várias técnicas de que lhe permitem compreender o funcionamento mental da pessoa, mas isso não acontece no imediato.